Tiago Barreira
Deirdre McCloskey é a expressão mais bem acabada da tradição filosófica sofista na contemporaneidade. É sofista no seu sentido mais preciso, referente àqueles filósofos que reinavam na democracia ateniense, a quem Sócrates e Platão se levantavam contra. Os sofistas colocavam a retórica e a ação prática como o parâmetro de medida de todo conhecimento humano.
Reconheço, por um lado, como promissora e inovadora a tese de McCloskey descrita na enciclopédica trilogia de Bourgeois Era, que destaca o papel da retórica no processo histórico e desenvolvimento econômico, ao identificar a mudança no significado semântico e na linguagem do século XVI a XVIII como causa que impulsionou a revolução capitalista burguesa. Por outro lado, eu não compro as suas conclusões meta-históricas, de resumir todas as atividades humanas, incluindo a própria filosofia e ciência, à mera linguagem e retórica.
Conseguem perceber o quão danosa é essa conclusão? Pois é isso que McCloskey, ao longo da obra Rethoric of Economics propõe. Herdeira do niilismo metodológico de Feyeraband, McCloskey conclui nesta obra que a ciência econômica se reduz a uma mera expressão retórica, que apenas se diferencia das demais retóricas por ser mais elegante e sofisticada, baseada na demonstração econométrica e estatística.
A própria apologia à Retórica que McCloskey faz é altamente sofisticada e refinada. Consigo identificar, ao longo de todas as suas obras, que McCloskey faz uma apologia à retórica em três planos 1) Ele faz apologia à retórica no plano epistemológico, como o único critério de validação científica confiável. 2) Ele faz uma apologia à retórica no plano moral normativo, enquanto expressão das liberdades modernas e das virtudes de negociação e barganha burguesa (“A única alternativa à retórica é uma arma apontada na cabeça”). 3) Ele defende a retórica no plano antropológico, enquanto motor causador das transformações sociais e culturais. Palavras condicionariam a formação de mentalidades e atitudes, e não o contrário.
Esses três pontos são os pilares do pensamento de McCloskey, sintetizados na seguinte conclusão: A Retórica e a linguagem humana é o senso de medida de todo conhecimento. Abre-se assim o caminho para o ciência ao mero marketing publicitário, ao slogan político da moda e à manchete jornalística mais clicada do dia. E pior, considerar isso virtuoso, pois é uma virtude burguesa.
Por outro lado, eu dou graças a Deus de ter tido a oportunidade de conhecer a Teoria dos Quatro Discursos do Olavo de Carvalho. Não caio nessa tese niilista e pós-moderna de que todo o discurso científico se reduz à sua persuasividade retórica. A retórica, segundo os Quatro Discursos, é apenas um degrau prévio e anterior ao verdadeiro discurso científico, baseado na contraprova dialética de argumentos contrários e na posterior demonstração lógica.
Tudo isso me leva a concluir que McCloskey é o pós modernismo em sua expressão culminante. Pois o pós modernismo é a afirmação radical dos sofistas e a negação de qualquer senso absoluto de verdade. Menos McCloskey e mais Platão e Sócrates.
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