George Steiner e a consideração sobre aqueles que queimam livros – Luiz Ribeiro

Queima de livros na Alemanha nazista. Reprodução: Wikimedia

O filósofo e crítico literário George Steiner (1929-2020) revela a importância dos livros na mudança da realidade do homem, sendo uma chamada contra a barbárie e a brutalização da vida. Livros expressam a paixão por ideias e o desejo de imortalidade através de suas palavras, inspirando futuras gerações.

Luiz Felipe Ribeiro

Tempo de leitura: 3 min

Estou sem palavras diante da construção que George Steiner fez em tão poucas páginas. Foi fantástica a constatação desse homem de que aqueles que queimam livros e prendem poetas sabem exatamente o que estão fazendo, pela capacidade de modificação da realidade que um livro pode trazer. O livro sempre foi uma verdadeira chamada contra a barbárie, contra a não transcendência e brutalização da vida a que tanto estamos acostumados.

E ainda, Steiner diz que maus livros podem fazer muito mal para o povo. E que os intelectuais nem sempre estão a serviço do heroísmo, citando exemplos de homens que justificaram barbáries com seus escritos.

Heine diz que onde se queimam livros, se acabam por queimar pessoas. E isso foi fantástico para mim. Estou diante de algo semelhante em minha casa. Minha família reclama de tantos livros que compro. Talvez, se não fossem ignorantes e pegassem um ou dois para ler, pudessem viver melhor do que vivem, menos imbecilizados e convencidos por qualquer charlatão protestante que chega e os ilude com falso intelectualismo. Tento mostrar isso para eles, mas nenhum profeta é ouvido dentro de sua própria terra.

Steiner me lembrou o que é estar apaixonado. Creio que nunca estive apaixonado por uma mulher, mas já estive muitas vezes apaixonado por ideias.

Ler que, em seu leito de morte, Balzac chamava pelos médicos que havia criado na Comedia Humana, que Flaubert teria dito que ele morria como um cachorro, enquanto “a meretriz” Emma Bovary viveria para sempre, me deu a certeza de que esses homens criaram personagens para não ficarem sozinhos num mundo tão vazio e tinham certeza de que o que criaram era real e, por ser real, eram eternos e fariam dos seus criadores também eternos.

Eu gostaria de ser eterno. De saber que, daqui a cem anos, algum jovem em algum lugar do mundo, angustiado como eu sou agora, pegará algo que eu escrevi e dirá: “Eu entendo esse homem, ou melhor, esse homem me entende. Eu gostaria de tê-lo conhecido. Gostaria de lhe fazer perguntas. Que ele fosse meu amigo. Meu conselheiro.”

Gostaria que me traduzissem, quando o português for uma língua morta, porque me julgam importante e essencial para a humanidade e para fazer o homem transcender e ser mais do que um mero animal. Que eu desperte sentimentos nobres e incentive alguém a procurar a verdade. Que eles continuem conversando comigo e me dando ouvidos, mesmo quando eu não estiver mais aqui.

Isso é arrogante da minha parte? Desejo de glória? É pecado? É anticristão? Não creio que seja. Acho que Deus entende minha vontade; ao menos não é hipócrita, porque vem do mais íntimo do meu ser e é sincero.

 

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional do Ágora Perene.

Assine grátis o Newsletter da Revista Ágora Perene e receba notificações dos novos ensaios

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade para mais informações.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *