Considerações sobre a imaginação educada de Northrop Frye – Luiz Ribeiro

Imagem: Pxere.com

O que posso dizer sobre esse homem? Somente que é brilhante. Diferente de Bloom e Steiner, pois não se preocupa em demonstrar tanta erudição como aquele, nem em constantemente usar frases de impacto, como este. Northrop Frye busca explicar a origem da imaginação do homem. Segundo ele, ela surge de um choque entre a razão e as emoções. A imaginação é a harmonia entre as duas coisas: uma vez que a razão percebe as coisas como são, e as emoções determinam se gostamos ou não delas, surge a imaginação que nos diz como gostaríamos que as coisas fossem.

Luiz Felipe Ribeiro

Segundo Frye, é a imaginação que tem o poder de nos fazer compreender que existe algo além do sofrimento, dos problemas, da feiúra da vida. Nesse sentido, a imaginação, linguagem da literatura, nos mostra que poderíamos ser mais, ter mais do que temos, e construir uma sociedade diferente.

Todos os poetas, artistas e escritores são, nesse sentido, imaginadores. O problema de um povo, diz Frye, é não ter imaginação. Ficar na secura da realidade, aceitando qualquer coisa e dizendo que o que os olhos não veem não existe.

Quem não tem imaginação é incapaz de questionar, porque olha e diz: “É assim mesmo” e só enxerga essa possibilidade. A tolerância, segundo o autor, surge da imaginação, quando eu olho e digo: “Talvez haja algo além disso que eu estou vendo ou quero ver.”

A linguagem da imaginação expande. Quando uma linguagem está reduzida a jargões e automatizada, diz Frye, as pessoas se animalizaram, não têm mais comunicação. Ele cita que foi isso que aconteceu em 1984 de Orwell: a linguagem se tornou um mero jargão. Eles não tinham imaginação.

E, por fim, cita que na torre de Babel, o que os impediu de subir foi um problema de linguagem. Nesse sentido, quando não se pode ir para o céu, deve-se colocar os pés no chão, e parece que nem isso estamos fazendo.

A definição de cultura dada pelo autor foi a melhor que eu já vi na vida: cultura como o melhor que um povo já produziu, disse e fez.

Fico feliz por ter lido esse livro, ainda mais por tê-lo lido justamente após ter lido Steiner, “Aqueles que queimam livros”. Os autores vão na mesma linha: Steiner chocando e Frye com um jeito mais pedagógico.

Hoje acabei de ler a Ilíada também. Comparando com o que li no Frye, não posso deixar de pensar que os gregos foram grandes porque tinham esse imaginário gigantesco. Sempre Aquiles diante de si, um gigante inatingível, mas com a impressão de ser possível, porque mesmo filho de deusa, ainda era humano.

Qual o problema do homem moderno? Será que é porque não temos mais utopias? E o comunismo que se deu ao povo como possibilidade do melhor possível é apenas algo que amesquinha? Uma felicidade por redução e não por expansão não é, de fato, uma utopia.

Nesse sentido, precisamos de um imaginário melhor. Aqui no Brasil tivemos Canudos. Creio que, na ignorância daquele povo, o imaginário deles estava repleto de belezas. O mesmo em Sete Povos das Missões. Só com um imaginário muito desenvolvido para um homem dar a vida pelo que acredita e ama.

 

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional do Ágora Perene.

Assine grátis o Newsletter da Revista Ágora Perene e receba notificações dos novos ensaios

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade para mais informações.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *