Martin Buber

“O humanamente correto é, pois, o serviço do indivíduo que realiza a verdadeira individualidade criacionalmente idêntica a ele. Assumir na decisão a direção significa por conseguinte: assumir a direção do ponto do ser no qual, executando de minha parte o projeto que sou eu, encontro meu esperado mistério divino de minha individualidade criada.” Martin Buber, em Imagens do Bem e do Mal.

Estevan de Negreiros Ketzer

Psicólogo Clínico. Doutor em Letras (PUCRS). Email: [email protected]

Nasce em 8 de fevereiro de 1878, Viena, capital do Império Austro-Húngaro. Aos 4 anos vivencia a separação dos pais. Ele vai morar com os avós paternos para a Galícia, cidade de Lemberg, ao sul da Ucrânia. Ingressa na escola regular aos dez anos, Ginásio Franz Josef, de tradição católica. Buber desenvolve o gosto pelas línguas, sabendo polonês (língua da escola), francês, alemão e hebraico. Conhece a obra de Rashi (Rabi Schlomo Itsaac).

Passa muito tempo na propriedade rural do pai, em Bukovina, também na Galícia, onde refere ter tido “verdadeiro contato humano com a natureza”. Entre os 15 e os 17 anos passa muito tempo lendo filosofia: Prolegômenos a toda a metafísica futura, de Kant; e Assim Falava Zaratustra, de Nietzsche. A reflexão sobre o tempo na ideia do eterno retorno do mesmo, infinito repleto de séries finitas. Seus estudos sobre antropologia filosófica são expostos nos trabalhos Entre o Homem e o Homem (1947), Imagens do Bem e do Mal (1952) e, seu livro de maior destaque, Eu e Tu (1923), reconhecido como um dos mais influentes do século XX.

Em 1897, ingressa na faculdade de filosofia de Leipzig, Alemanha. Aos 25 anos conhece Theodor Herzl. Em 1898, juntou-se ao movimento sionista, participando de congressos e trabalhos organizacionais. Em 1899, enquanto estudava em Zurique, Buber conheceu sua futura esposa, Paula Winkler, a qual deixou a Igreja Católica e em 1907 se converteu ao judaísmo. Buber torna-se em 1902 o editor do jornal oficial do movimento sionista, Die Welt. Participa do sexto congresso sionista de 1903. Desenvolve seus estudos na doutrina dos rabis da linhagem de Baal Schem Tov, doutrina da chassidut, os benevolentes. Escreve os livros Histórias do Rabi (1949), Histórias do Rabbi Nachman (1956), A lenda de Baal Schem (1908) e O caminho do homem (1935), baseando na doutrina dos chassídicos. Desenvolve a ideia de experiência (Erleibnis) como de suma importância para o encontro do homem consigo mesmo.

 Em 1921, Buber começou seu relacionamento próximo com Franz Rosenzweig. Em 1922, ele e Rosenzweig cooperaram na Casa de Aprendizagem Judaica de Rosenzweig, conhecida na Alemanha como Lehrhaus. Em 1925, eles começam o projeto de tradução da Bíblia Hebraica, Tanach, do hebraico para o Alemão. Escreveram dois artigos sobre a tradução da Bíblia. Os livros Daniel, diálogos sobre realização (1913), Moisés (1945) e A fé profética (1949) revelam seus importantes estudos bíblicos.

 Martin Buber foi um dos fundadores do movimento de intelectuais Brit Shalom (aliança da paz), em 1925, o qual buscava a coexistência pacífica entre árabes e judeus em Israel. Seu objetivo era a criação de um centro para a vida cultural judaica em Israel, ecoando as ideias anteriores do Ahad Ha’Am. Eles criaram uma revista mensal, Sheifoteinu, e organizaram cursos de árabe para judeus que viviam na Palestina. Os apoiadores e fundadores do Brit Shalom incluíam o economista e sociólogo Arthur Ruppin – fundador do partido político Ichud –, o filósofo Hugo Bergmann, os historiadores Hans Kohn, Gershom Scholem, Henrietta Szold e Israel Jacob Klieger e o físico Albert Einstein.

Em 1930, Buber tornou-se professor honorário na Universidade de Frankfurt am Main, mas renunciou à sua cátedra em protesto imediatamente após Adolf Hitler chegar ao poder em 1933. Ele então fundou o Escritório Central para a Educação Judaica de Adultos, que se tornou um órgão cada vez mais importante à medida que o governo alemão proibia os judeus de frequentarem a educação pública. Em 1938, Buber deixou a Alemanha e se estabeleceu em Israel, recebendo uma cátedra na Universidade Hebraica de Jerusalém. Buber leciona antropologia e sociologia  introdutórias. Em 1947, ele foi forçado a fugir de sua casa em Abu Tor, Jerusalém, devido ao avanço do Exército de Libertação Árabe . Após a criação do Estado de Israel, em 15 de maio de 1948, Buber se tornou o filósofo israelense mais conhecido no mundo.

Além disso, participou dos encontros do Círculo de Eranos (1933), presididos por Carl Gustav Jung (1875-1961), ministrando conferências publicadas em O eclipse de Deus (1952). A ênfase do grupo eram contribuições dos maiores pesquisadores do século XX, para um público leigo, acerca de mitologia e mística. Hermann Hesse (1877-1962), ao indicá-lo ao Prêmio Nobel de Literatura, descreveu-o como um dos poucos sábios vivos no mundo em sua época.

Buber e Paula tiveram dois filhos: um menino, Rafael Buber, e uma menina, Eva Strauss-Steinitz. Eles ajudaram a criar as netas Barbara Goldschmidt (1921-2013) e Judith Buber Agassi (1924-2018), nascidas do casamento de seu filho Rafael com Margarete Buber-Neumann. A esposa de Buber, Paula Winkler, faleceu em 1958 em Veneza, e ele faleceu em sua casa no bairro de Talbiya, em Jerusalém, em 13 de junho de 1965.

Prêmios:

Em 1951, Buber recebeu o prêmio Goethe da Universidade de Hamburgo .

Em 1953, recebeu o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão.

Em 1958, foi-lhe atribuído o Prémio Israelita nas humanidades.

Em 1961, ele recebeu o Prêmio Bialik de pensamento judaico.

Em 1963, ganhou o Prêmio Erasmus em Amsterdã.

Referências:

BUBER, Martin. Encontro: fragmentos autobiográficos. Tradução de Sofia Inez Albornoz Stein. Petrópolis: Vozes, 1991.

BUBER, Martin. A Fé do Judaísmo. In: GUINSBURG, Jacó (Org.). O Judeu a Modernidade. São Paulo: Perspectiva, 1970.

ZANK, Michael. Martin Buber. Stanford Encyclopedia of Philosophy, Apr 20, 2004; revision Jul 28, 2020, Stanford, CA. Disponível em: https://plato.stanford.edu/entries/buber/. Acesso: 24 jul. 2025.

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