
O antropólogo Claude Lévi-Strauss apresenta precisão e justeza de raciocínio quando afirma a influência das ciências naturais e humanas na Antropologia, e ainda destaca o seu percurso direcionado às ciências sociais. Em sua obra Antropologia Estrutural, ele destaca o caráter multidisciplinar pertinente ao estudo da Antropologia que se deve ao seu vasto campo de investigação. Ela recebe influência dos estudos arqueológicos, tecnológicos, linguísticos, e de aspectos da antropologia física, portanto, ela não pode se limitar somente aos aspectos das ciências sociais, os quais se evidenciam no que se refere à Antropologia Social.

Lévi-Strauss prossegue seu argumento acerca das variadas influências sofridas pela Antropologia, quando descreve os departamentos universitários como sendo chamados de “Antropologia e Ciências Sociais”. Por isso, ele evidencia que, apesar das relações entre as duas áreas do saber, a Antropologia não pode estar limitada ao aspecto de Ciência Social. A própria constituição da Antropologia Social e Cultural não visa se erguer como campo autônomo de conhecimento, mas sim agregar a sua análise elementos de diversos ramos das ciências humanas e sociais.
Ao investigar fenômenos complexos, é natural que ao longo do processo muitas sejam as áreas de investigação de determinado grupo social, cultural e étnico que se manifestam aos olhos do observador. Pode-se ter um estudo antropológico derivado de descobertas linguísticas, resultado de análises etnografias ou até mesmo de achados arqueológicos.
Prova dessa variedade de assuntos tratados pela Antropologia está na reunião da Antropologia Cultural e Linguística no mesmo departamento por certas universidades, trazendo contribuições importantes às complexas pesquisas da antropologia advindas de outros campos como das áreas já consagradas das letras e das ciências humanas.
A Antropologia como campo científico apresenta aspecto tripartite, tendo em vista a influência que recebe da Antropologia Social, Física e Cultural. Prova disso é a admissão por parte da sociedade de Antropologia quanto à filiação aos três campos científicos citados acima. Embora ela estude as relações sociais e tenha o homem como objeto, ela não se restringe ao campo das ciências sociais e humanas.
Nesse sentido, faz-se pertinente analisar a relevância das ciências naturais para a Antropologia, constituindo assim a Antropologia Física, uma vez que se encarrega de examinar os aspectos de transformações anatômicas e fisiológicas da espécie humana utilizando-se de recursos das ciências naturais, como a Geologia, Biologia, Química e Física, é claro não tomando esses campos como objetos em si mesmos, mas como instrumentos de novas descobertas na Antropologia.

O objetivo da Antropologia não é um recorte específico do homem, mas a compreensão do homem por inteiro, isto é, no seu sentido global, a fim de que suas descobertas não se reduzam a determinados aspectos menores e específicos. A antropologia seria a etapa final da pesquisa, que é oriunda da pesquisa investigativa, e se inicia na Etnografia e Etnologia, e para além disso, existem as contribuições históricas e geográficas que impactam os grupos humanos de determinado local.
Já a Antropologia social surge a partir das investigações de aspectos da vida social, ou seja, a religião, o direito, a economia, a ciência, a tecnologia e a arte. Esse aglomerado de fatores inclui aspectos da vida cotidiana, sem os quais se torna inviável a compreensão de determinado grupo social.
Nesse sentido, a análise de aspectos da Sociologia é de grande relevância, não só se valendo de quesitos históricos, geográficos e naturais. A análise social avalia a forma como determinadas crenças, conhecimentos e hábitos são transmitidos de geração à geração, a fim de compreender os aspectos sociais em sua totalidade e o papel que desempenham, assim, ao invés de simplesmente tomá-los como meras partes, ocupa-se da realidade total, evitando assim, opacidades e inconsistências analíticas.
O caráter vasto das disciplinas que integram o corpus antropológico pode variar de acordo com a ênfase da pesquisa. Isso se deve certamente ao fato da Antropologia ser uma ciência jovem quando comparada às demais e até às ciências sociais, cuja independência como campo científico autônomo se dá no século XIX.
Segundo o próprio Strauss, se a orientação da pesquisa for de cunho “culturalista”, tem-se a influência da geografia, tecnologia, pré-história, e se a orientação for de caráter sociológico, será pertinente a aplicação de campos como a Arqueologia, História e Psicologia. Em ambos os casos a linguística se faz presente, dado que a linguagem possui em seu sistema símbolos fidedignos da riqueza cultural de um povo.

Por fim, o objeto de investigação o qual se ocupa a Antropologia vai ganhando influência de outros campos e transformando a si mesma à medida que sua evolução teórica ocorre. Não é possível assim dissociar a influência das ciências naturais, humanas e sociais bem como as grandes contribuições da linguística no corpus que forma a disciplina universitária que constitui a Antropologia.
Como campo de estudo acadêmico, a Antropologia comporta ao mesmo tempo os três campos na sua construção teórica. Por esses argumentos, podemos afirmar serem pertinentes e lúcidas as elucubrações de Strauss de que embora a Antropologia tenha sua origem nas ciências naturais, ela se utilizou de conceitos das ciências humanas e tende a abordar, em última análise, os problemas comumente contemplados pelas ciências sociais.
Embora a Antropologia reivindique independência como campo teórico, ela se vale de diversos conceitos dessas ciências, mas que não se anulam, pelo contrário, coexistem entre si como instrumentos para a elaboração de estudos e pesquisas da área antropológica.
Eliseu Cidade
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