Apontamentos introdutórios sobre a fenomenologia

A fenomenologia surge em resposta a desafios filosóficos como o relativismo, psicologismo e ceticismo, característicos do final do século XIX e início do século XX. Influenciado por sua formação matemática, Husserl almeja uma filosofia rigorosa, identificada como ciência, que investigue os fundamentos últimos do conhecimento.

Desafios da Empatia na Prática da Advocacia – Paulo Tamer

Por mais claro que pareçam os conceitos, ser empático é das atividades mais complexas que a mente humana pode tentar desenvolver. Isto porque, tal atividade, do ponto de vista intelectual, é imensamente complexa, dado que desenvolver narrativas e esforços argumentativos sendo empático com seus assistidos é tarefa similar a dos grandes literatos como Dante Alighieri, Dostoiévski, Alexander Soljenítsin, Machado de Assis, Shakespeare, Ivan Turgêniev, G. K. Chesterton, e demais autores de obras de literatura universal.

Estudo sobre a origem da noção fenomenológica de “epoché”: a epoché de Sexto Empírico – Pedro Araújo

O artigo explora a noção de "epoché" (suspensão do juízo) em Sexto Empírico, um dos principais filósofos céticos. A "epoché" é a prática de suspender o julgamento sobre qualquer afirmação, buscando a ataraxia, ou tranquilidade mental. Sexto Empírico desenvolveu dez tropos, ou lugares argumentativos, para ilustrar a aplicação da "epoché". Esses tropos exploram as diferenças entre animais, humanos, sentidos, circunstâncias, posições, combinações, quantidades, relatividade, frequência e costumes.

Analítica do conceito de ente sob a assunção à tese: o ser não é predicado real – Pedro Araújo

Analise-se o ente, se ele existe aqui e agora. Analise-se uma proposição em que figuram as condições espaço-temporais somadas à forma proposicional designada de segunda adjacente. Assim, considere-se a enunciação seguinte: “aqui e agora, o ente é.”

A Heresia da Individualidade

Para a psicologia moderna, o espírito é um conjunto de processos mentais, percepções, sensações e afetos. De fato, a convergência dos vários processos no ser consciente produz a ilusão da consciência do ego individual. Esta é, e não outra, a doutrina do Buda. A heresia da individualidade consiste, então, na crença no eu-substância, em ter consciência, a personalidade humana, como algo substancial e existente por si mesmo, quando nada mais é do que uma ilusão.

Hesíodo e a ética do trabalho na Grécia Antiga – Tiago Barreira

Em "A Paideia, a formação do homem grego", Werner Jaeger enfatiza o papel da areté na cultura grega, centrada na transcendência ética humana. Enquanto a poética de Homero exalta os ideais éticos guerreiros, Hesíodo valoriza a vida cotidiana do homem do campo em "Os Trabalhos e os Dias" (Erga). A ética do trabalho é destacada nos Erga, revelando sua presença na sociedade grega muito antes do calvinismo, como preconizado por Weber. Os Erga mostra o trabalho como uma bênção e fundamento da virtude e justiça.

A Paideia e o legado da cultura grega – Tiago Barreira

Werner Jaeger, em "A Paideia: a formação do homem grego", destaca a singularidade da cultura grega em relação às demais de seu tempo, em função da sua educação pedagógica. Essa pedagogia enfatiza a autossuperação humana e valores éticos universais, nunca sendo um conjunto rígido de tradições e ritos, mas adaptável às mudanças sociais e ressignificando-se ao longo do tempo. Este modelo pedagógico transcendeu a antiga pólis grega, influenciando os dias atuais. A Paideia persiste como uma fonte cultural revitalizadora, transmitindo ideais éticos, estéticos e políticos centrados na ideia de alma humana infinita, moldando e enriquecendo culturas ao longo da história.

Apaixonamento e Misticismo em José Ortega y Gasset

Este artigo reproduz trechos da obra "Estudos sobre o Amor" do filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955), e uma mais difundidas do autor. Os ensaios selecionados analisam o apaixonamento humano enquanto expressão consciente direcionada ao objeto amado. A consciência apaixonada, concentrada na amada e desatenta ao mundo periférico, é definida por Ortega como maníaca (no sentido de Theia manía dado por Platão) e guarda relações muito próximas com o êxtase espiritual místico, definido como um esvaziamento da alma. Uma alma vazia mas ao mesmo tempo plena do Ser divino, uma "noite escura da alma", segundo São João da Cruz.

Nós, os inadaptados

O filósofo e antropólogo galego e espanhol Vicente Risco (1884-1963) é considerado o maior pensador da Galícia do século XX e um importante nome da filosofia perene na Península Ibérica. Um dos seus ensaios mais conhecidos, “Nós, os Inadaptados” (1933), descreve sua trajetória biográfica intelectual. Risco, influenciado inicialmente pelas ideias individualistas e pessimistas do Fin de siècle e do decadentismo do século XIX, narra sua trajetória em direção ao espiritualismo e regionalismo galego. O ensaio traz interessantes reflexões sobre a crise europeia vivenciada pela geração do período de entreguerras (1918-1939).

Aquela que deve ser obedecida

Carl J. Jung, em Dois Ensaios sobre Psicologia Analítica, descreve a Anima como o arquétipo do feminino no inconsciente masculino - a imagem da mulher no homem. O homem, na sua escolha amorosa, é fortemente atraído pela mulher que melhor corresponda a seu próprio inconsciente feminino - uma mulher que possa receber as projeções de sua Anima. A Anima é uma força interior espontânea e obscura, produzindo estados de espírito inexplicáveis, e ao qual não deve ser reprimida, mas integrada harmonicamente com a ação consciente e deliberada do Ego.