A Paideia e o legado da cultura grega – Tiago Barreira

Werner Jaeger, em "A Paideia: a formação do homem grego", destaca a singularidade da cultura grega em relação às demais de seu tempo, em função da sua educação pedagógica. Essa pedagogia enfatiza a autossuperação humana e valores éticos universais, nunca sendo um conjunto rígido de tradições e ritos, mas adaptável às mudanças sociais e ressignificando-se ao longo do tempo. Este modelo pedagógico transcendeu a antiga pólis grega, influenciando os dias atuais. A Paideia persiste como uma fonte cultural revitalizadora, transmitindo ideais éticos, estéticos e políticos centrados na ideia de alma humana infinita, moldando e enriquecendo culturas ao longo da história.

Brasil: um nome de origens célticas? – Tiago Barreira

Os povos celtas, a partir da Europa Central, espalharam sua cultura e línguas pela Europa Ocidental pré-romana, incluindo França, Grã-Bretanha, Irlanda e Península Ibérica. Estudos linguísticos sugerem que a língua celta tenha persistido na Península Ibérica até o século XI. A ilha mítica Hy-Brasil, ou a "Ilha da Felicidade", presente em narrativas legendárias célticas, pode ter influenciado o nome do Brasil. Apesar de controvérsias quanto ao tema, a questão da presença celta na formação cultural e linguística de Portugal, Espanha e Brasil é ainda pouco estudada e deveria ser objeto de maiores investigações acadêmicas.

O Caminho Francês, Graal e Maragatos: a Região de Castela e Leão – Tiago Barreira

A rede de estradas de peregrinação interconectadas a Santiago de Compostela, os Caminhos de Santiago, teve um papel histórico destacado na formação cultural, econômica e social da Espanha e Península Ibérica. Dentre as diversas rotas de peregrinação, a mais conhecida é o Caminho Francês. A região compreendida pelo Caminho é berço da língua castelhana e núcleo de um dos reinos cristãos mais poderosos da Reconquista Ibérica: a Coroa de Castela e Leão.

O papel das tradições socioculturais no desenvolvimento econômico – Tiago Barreira

A teoria neoclássica do desenvolvimento econômico, formulada por Robert Solow nas décadas de 40 e 50, enfatizou fatores quantitativos como poupança, educação e inovação. Essa abordagem desconsidera a influência da antropologia sociocultural, que destaca a importância do contexto espacial e histórico nas interações humanas. O ensaio argumenta que a teoria econômica deve incorporar esses elementos para uma compreensão mais completa, propondo um equilíbrio entre a teoria neoclássica e a análise antropológica para uma compreensão abrangente do desenvolvimento econômico.

Ashmedai, Lilith, Demônios e a Questão do Acasalamento com Humanos – Rafael Daher

O tema do sexo entre espíritos, demônios e humanos e o nascimento de descendentes que são metade humanos e metade demônios, tendo como resultado uma demônio fêmea, é muito comum em diferentes formas nos contos populares de todas as nações. Muitos contos deste tipo narrativo requerem esclarecimento, entre os quais os da literatura semita. O problema central subjacente a estas histórias é a luta pelo poder entre o mundo humano e o mundo demoníaco. A visão da existência de duas autoridades humana e demoníaca, natural e sobrenatural, serviu de pedra angular na visão de mundo do hebreu antigo.

O Anjo da Morte no Folclore Judaico e Muçulmano – Rafael Daher

O anjo da morte ocupa um lugar de destaque na visão de mundo da humanidade em todos os locais e em todas as gerações. Na tradição cultural do Médio Oriente (e do antigo Egipto) se enraizou o conceito do deus da morte (ou na tradição posterior: o anjo da morte), como uma personalidade que impõe terror e medo aos homens.

Caim e Abel

“A sociologia simbólica de Buddha, Moisés e Rousseau nos ensina, pois, que há dois tipos essenciais de civilização: uma civilização espontânea secundum natura, própria dos homens e dos povos nômades e pastores de mentalidade intuitiva, de cultura empírica e tradicional, unidos em agrupamentos naturais, os filhos de Abel..., e a outra civilização, própria dos homens e dos povos sedentários e industriais, de mentalidade reflexiva, de cultura especulativa e dialética, agrupados por um vínculo artificial sustentado pela coação política e a elaboração racional da lei, os filhos de Caim...A primeira é a civilização dos povos orientais; a segunda é a que os gregos impuseram ao Ocidente. Os gregos, cainitas típicos, criaram definitivamente a cidade e sua civilização”

A consciência do mal em Baudelaire – Tiago Barreira

A obra Fleurs du Mal (1857) de Charles Baudelaire (1821-1867) expõe um dos mistérios mais paradoxais da vida humana: o fascínio pelo Mal como fonte da atração pelo Belo. É no Mal destrutivo, perigoso e mortal que se encontra a fonte de toda voluptuosidade do Belo, ardorosamente desejada e buscada pelo ser humano. Porém, se o mundo é esse caldo indistinguível de Belo e Mal, é possível existir o Bem? Contrariamente às conclusões céticas do poeta sobre a moral, o presente ensaio propõe a sensibilidade do Bem como nascido precisamente dessa tensão dialética entre a consciência do mal e a sensibilidade da beleza.

Apaixonamento e Misticismo em José Ortega y Gasset

Este artigo reproduz trechos da obra "Estudos sobre o Amor" do filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955), e uma mais difundidas do autor. Os ensaios selecionados analisam o apaixonamento humano enquanto expressão consciente direcionada ao objeto amado. A consciência apaixonada, concentrada na amada e desatenta ao mundo periférico, é definida por Ortega como maníaca (no sentido de Theia manía dado por Platão) e guarda relações muito próximas com o êxtase espiritual místico, definido como um esvaziamento da alma. Uma alma vazia mas ao mesmo tempo plena do Ser divino, uma "noite escura da alma", segundo São João da Cruz.

Nós, os inadaptados

O filósofo e antropólogo galego e espanhol Vicente Risco (1884-1963) é considerado o maior pensador da Galícia do século XX e um importante nome da filosofia perene na Península Ibérica. Um dos seus ensaios mais conhecidos, “Nós, os Inadaptados” (1933), descreve sua trajetória biográfica intelectual. Risco, influenciado inicialmente pelas ideias individualistas e pessimistas do Fin de siècle e do decadentismo do século XIX, narra sua trajetória em direção ao espiritualismo e regionalismo galego. O ensaio traz interessantes reflexões sobre a crise europeia vivenciada pela geração do período de entreguerras (1918-1939).