A consciência do mal em Baudelaire – Tiago Barreira

A obra Fleurs du Mal (1857) de Charles Baudelaire (1821-1867) expõe um dos mistérios mais paradoxais da vida humana: o fascínio pelo Mal como fonte da atração pelo Belo. É no Mal destrutivo, perigoso e mortal que se encontra a fonte de toda voluptuosidade do Belo, ardorosamente desejada e buscada pelo ser humano. Porém, se o mundo é esse caldo indistinguível de Belo e Mal, é possível existir o Bem? Contrariamente às conclusões céticas do poeta sobre a moral, o presente ensaio propõe a sensibilidade do Bem como nascido precisamente dessa tensão dialética entre a consciência do mal e a sensibilidade da beleza.

Apaixonamento e Misticismo em José Ortega y Gasset

Este artigo reproduz trechos da obra "Estudos sobre o Amor" do filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955), e uma mais difundidas do autor. Os ensaios selecionados analisam o apaixonamento humano enquanto expressão consciente direcionada ao objeto amado. A consciência apaixonada, concentrada na amada e desatenta ao mundo periférico, é definida por Ortega como maníaca (no sentido de Theia manía dado por Platão) e guarda relações muito próximas com o êxtase espiritual místico, definido como um esvaziamento da alma. Uma alma vazia mas ao mesmo tempo plena do Ser divino, uma "noite escura da alma", segundo São João da Cruz.

Nós, os inadaptados

O filósofo e antropólogo galego e espanhol Vicente Risco (1884-1963) é considerado o maior pensador da Galícia do século XX e um importante nome da filosofia perene na Península Ibérica. Um dos seus ensaios mais conhecidos, “Nós, os Inadaptados” (1933), descreve sua trajetória biográfica intelectual. Risco, influenciado inicialmente pelas ideias individualistas e pessimistas do Fin de siècle e do decadentismo do século XIX, narra sua trajetória em direção ao espiritualismo e regionalismo galego. O ensaio traz interessantes reflexões sobre a crise europeia vivenciada pela geração do período de entreguerras (1918-1939).

Aquela que deve ser obedecida

Carl J. Jung, em Dois Ensaios sobre Psicologia Analítica, descreve a Anima como o arquétipo do feminino no inconsciente masculino - a imagem da mulher no homem. O homem, na sua escolha amorosa, é fortemente atraído pela mulher que melhor corresponda a seu próprio inconsciente feminino - uma mulher que possa receber as projeções de sua Anima. A Anima é uma força interior espontânea e obscura, produzindo estados de espírito inexplicáveis, e ao qual não deve ser reprimida, mas integrada harmonicamente com a ação consciente e deliberada do Ego.

Ortega y Gasset e paralelos entre Brasil e Espanha – Tiago Barreira

José Ortega y Gasset é considerado um dos importantes filósofos e sociólogos espanhóis do século XX. Suas reflexões sobre os problemas enfrentados pela cultura e sociedade espanhola em seu tempo, como a questão da massificação social, permanecem sendo atuais. Através dos conceitos-chaves da sociologia de Ortega, vemos como a sociedade espanhola guarda muitas similaridades com a brasileira, conservando ambas os mesmos traços de invertebração, fragmentação e ressentimento social impulsionados pela massificação e particularismo.

Nostalgia: Melancolia e Esperança – Tiago Barreira

A nostalgia é um sentimento humano que deve ser cultivado e se encontra incompreendido em demasiado em tempos culturais atuais. A nostalgia, definida como essa ansiosa tensão entre a melancolia de ausência e esperança de regresso ao lar, é hoje alvo de ataques por diversas correntes de pensamento, acusada seja de conduzir a um estado apático e depressivo no ser humano, seja de promover uma idealização reacionária do passado. Contudo, contrariamente às suas caricaturações ideológicas, o amor nostálgico ao ausente se mostra hoje tão necessário como chave para soluções e respostas da vida humana presente e do aqui e agora.

A Presença do Oriente na Obra de Vicente Risco

Vicente Risco, foi um dos intelectuais galegos mais importantes do século XX, e principal definidor intelectual do nacionalismo galego. Seu pensamento foi marcado pela profunda influência do Oriente e crítica ao racionalismo ocidental. O pensamento oriental, caracterizado por Risco pela valorização da tradição, do simbolismo religioso e do sentimento, seria tomado como ponto de partida para revalorizar as tradições culturais galegas e refletir as relações entre Galícia e Ocidente.

A formação do Estado de Israel e as origens do conflito árabe – israelense – Eliseu Cidade

O artigo a seguir é uma tentativa de formular as bases da formação do Estado Judeu moderno tanto a partir de sua origem como movimento europeu do sionismo - dando-lhe as bases jurídicas e territoriais ao lado do apoio de grandes potências, e da mesma forma, o evento da Aliyah - que culmina na volta … Continuar lendo A formação do Estado de Israel e as origens do conflito árabe – israelense – Eliseu Cidade

Fernão de Magalhães: o pioneiro da Circum-navegação – Eliseu Cidade

Fernão de Magalhães é, sem dúvida, uma das grandes personalidades do período das grandes navegações europeias e do empreendimento de circum-navegação portuguesa. Imbuído de espírito aventureiro e avidez por desbravar os mares, Fernão de Magalhães entra para a história como navegador primoroso e desbravador destemido em sua odisseia até sua morte em combate nas Filipinas.

Santiago de Compostela e a Formação do Imaginário Cultural Espanhol – Tiago Barreira

Santiago de Compostela, a cidade-santuário galega, é o berço da espiritualidade e da cultura ibérica cristã. Ponto de interseção de peregrinos de diversas culturas e países, é um símbolo da diversidade cultural na unidade na Igreja de Cristo. É também um símbolo do ideal aglutinador cultural da Hispanidade, que possui a figura do Santiago conquistador como o seu maior norte, vindo a preparar o projeto ideológico espanhol de Império cristão na América.