A consciência do mal em Baudelaire – Tiago Barreira

A obra Fleurs du Mal (1857) de Charles Baudelaire (1821-1867) expõe um dos mistérios mais paradoxais da vida humana: o fascínio pelo Mal como fonte da atração pelo Belo. É no Mal destrutivo, perigoso e mortal que se encontra a fonte de toda voluptuosidade do Belo, ardorosamente desejada e buscada pelo ser humano. Porém, se o mundo é esse caldo indistinguível de Belo e Mal, é possível existir o Bem? Contrariamente às conclusões céticas do poeta sobre a moral, o presente ensaio propõe a sensibilidade do Bem como nascido precisamente dessa tensão dialética entre a consciência do mal e a sensibilidade da beleza.

Ortega y Gasset e paralelos entre Brasil e Espanha – Tiago Barreira

José Ortega y Gasset é considerado um dos importantes filósofos e sociólogos espanhóis do século XX. Suas reflexões sobre os problemas enfrentados pela cultura e sociedade espanhola em seu tempo, como a questão da massificação social, permanecem sendo atuais. Através dos conceitos-chaves da sociologia de Ortega, vemos como a sociedade espanhola guarda muitas similaridades com a brasileira, conservando ambas os mesmos traços de invertebração, fragmentação e ressentimento social impulsionados pela massificação e particularismo.

Nostalgia: Melancolia e Esperança – Tiago Barreira

A nostalgia é um sentimento humano que deve ser cultivado e se encontra incompreendido em demasiado em tempos culturais atuais. A nostalgia, definida como essa ansiosa tensão entre a melancolia de ausência e esperança de regresso ao lar, é hoje alvo de ataques por diversas correntes de pensamento, acusada seja de conduzir a um estado apático e depressivo no ser humano, seja de promover uma idealização reacionária do passado. Contudo, contrariamente às suas caricaturações ideológicas, o amor nostálgico ao ausente se mostra hoje tão necessário como chave para soluções e respostas da vida humana presente e do aqui e agora.

Santiago de Compostela e a Formação do Imaginário Cultural Espanhol – Tiago Barreira

Santiago de Compostela, a cidade-santuário galega, é o berço da espiritualidade e da cultura ibérica cristã. Ponto de interseção de peregrinos de diversas culturas e países, é um símbolo da diversidade cultural na unidade na Igreja de Cristo. É também um símbolo do ideal aglutinador cultural da Hispanidade, que possui a figura do Santiago conquistador como o seu maior norte, vindo a preparar o projeto ideológico espanhol de Império cristão na América.

Brasil era menos pobre do que se imaginava no Império e início da República – Tiago Barreira

Em artigo publicado recentemente pelo economista Samuel Pessôa, a série histórica de PIB brasileiro teve sua metodologia revisada para o período 1900-1980, sendo um marco na historiografia econômica brasileira. O Brasil do século XIX e início do século XX era menos pobre do que o imaginado, e o período do "milagre econômico" conduzido por políticas estatais de fomento à indústria foi de crescimento mais modesto.

A Imaginação Primitiva e a Tirania Civilizacional no Brasil – Tiago Barreira

A ideia do "homem primitivo" como um ser mecânico e bestial foi introduzida nas ciências humanas por Thomas Hobbes, resultando na noção moderna de um ser humano desespiritualizado e em eterno conflito violento com outros homens, abrindo caminho para o surgimento de ideologias totalitárias que se arrogam de combatê-la. Atualmente, no Brasil, este imaginário primitivista que bestializa o homem convive com a divinização de instituições ditas "civilizatórias" como a Suprema Corte. Esse embate entre extremos é no fundo um grande teatro de tesouras.

As Categorias de Aristóteles – Tiago Barreira

Resgatar e reconstituir os conceitos que fundamentam o edifício de um pensamento antigo torna-se de suma importância para o aprendizado filosófico. Categorias, uma obra enxuta, porém, densa, constitui o ponto de partida e introdução aos estudos aristotélicos, e cumpre um importante papel de direcionar e balizar todos os modos de raciocínio e investigação filosófica que serão desenvolvidos no Ocidente nos séculos posteriores.

As Origens Esotéricas do Pensamento de Descartes – Tiago Barreira

O que distingue o pensamento moderno e tradicional? A noção cartesiana de mathesis universalis e o seu sistema de ciências unificadas segundo uma álgebra matemática universal parece ser um importante divisor de águas que separa o conhecimento moderno e tradicional. O mais surpreendente, contudo, é que esta centralidade universal da matemática dada pelos modernos possui raízes tradicionais e esotéricas, sob influência de ensinamentos herméticos rosa-cruceanos e da filosofia simbólica universal de Raimundo Lúlio.